Entrevista com Adelino Cunha - Pergunte ao autor

Porquê uma biografia de Álvaro Cunhal?


"Por se tratar de uma das figuras mais importantes do século XX português. Não existia até agora uma narrativa biográfica completa sobre Álvaro Cunhal. Desde a sua infância até à sua morte. Este livro tenta preencher esse espaço vazio. É uma biografia política que tenta contar a sua história, abordando o seu papel político na luta contra a Ditadura e após o 25 de Abril e a vertente artística, mas é também uma biografia com caracteres da sua vida familiar e íntima. Não se pode entender Álvaro Cunhal como político sem conhecer Álvaro Cunhal como homem, como pai, como filho, como irmão e como amigo. Esta narrativa tem essa ambição".


Qual a relevância do documento publicado pelo jornal Expresso (14 de Novembro, ver Sala de Imprensa) à luz do que já se conhecia sobre a vida de Álvaro Cunhal e deste período em particular?

Por um lado, este documento reflecte em grande medida a interiorização de Álvaro Cunhal de que o período da sua prisão seria sucessivamente prolongado à luz das medidas de segurança excepcionais invocadas pela PIDE. Os primeiros oito de anos de pena já cumprida num forte regime de isolamento na Penitenciária de Lisboa e, depois, no Forte de Peniche, antecipavam uma certa ideia de prisão perpétua. Aos 43 anos de idade, Cunhal tinha diante de si a perspectiva de que a solidão em que vivia poderia eternizar-se. Por outro lado, o documento revela as relações de fidelidade de acção do PCP em relação a Moscovo enquanto estado-maior do movimento comunista internacional. Cunhal podia tomar sozinho a decisão de solicitar a sua libertação em Portugal, mas estava dependente do poder do PCUS para que o seu pedido de exílio fosse aceite e, acima de tudo, precisava que a conquista da sua liberdade preservasse os princípios exigidos aos líderes revolucionários. Não cedeu nas torturas. Transformou o seu julgamento no julgamento da ditadura. E  teve um comportamento correcto na prisão.