terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As credenciais revolucionárias

As comemorações do 1.º de Maio de 1974 constituíram um momento histórico para o PCP e em particular para Álvaro Cunhal. O primeiro feriado nacional do Dia Mundial do Trabalhador representou uma vitória e a enorme mobilização das massas populares permitiu fazer a passagem narrativa do pronunciamento militar para o levantamento popular.



A revolução parecia avançar imparável e concretizar os sonhos da geração de comunistas que entregaram a sua vida à luta na ilegalidade. Pinheiro de Azevedo dirá mais tarde que este dia marcou em concreto o verdadeiro início da revolução “por omissão trágica” de Spínola. O presidente da República tinha sido “mal aconselhado” e recusara presidir à manifestação. “Foi a sua ausência que permitiu ao Partido Comunista começar a controlar as operações no âmbito do MFA”, acusou o antigo primeiro- ministro.


A convicção de Cunhal sobre o significado do momento ficou demonstrada com mais uma reprodução cénica. Depois da subida ao chaimite na chegada a Lisboa, apareceu na tribuna ao lado de um marinheiro e na presença do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Costa Gomes aceitara o desafio que Spínola rejeitou. O líder dos comunistas conseguiu projectar uma imagem de síntese entre o poder revolucionário vitorioso e as massas populares como partido da vanguarda. A manifestação tornou-se também numa homenagemao PCP e às décadas de luta clandestina contra a Ditadura e uma mensagem inabalável de esperança para os quadros em formação. Os milhares de pessoas que saíram às ruas no 1.º de Maio, tal como tinham feito logo após as primeiras horas do golpe de 25 de Abril, credenciavam o pronunciamento militar em levantamento popular.

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