quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A Praça Vermelha


O metro de Moscovo



Álvaro Cunhal em Moscovo

O bairro de Álvaro Cunhal em Moscovo, onde viveu na década na 60


O parque nas proximidades do bairro


A Universidade de Moscovo, perto do bairro


A avenida principal que dá acesso ao bairro onde Álvaro Cunhal viveu

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O centro do mundo


O corpo de Lénine está colocado num mausoléu em forma de uma pirâmide de cubos vermelhos, construída junto às muralhas do Kremlin e transformada em local de peregrinação para milhares de pessoas que se deslocavam a Moscovo expressamente para ver o corpo. Estaline soube cristalizar a herança e fomentou com fervor a propaganda do "culto leninista". A exaltação sistemática transforma o chefe no pai da pátria e, na sua ausência por morte, o sucessor absorve as distinções. Estaline desenvolveu o culto da personalidade em si próprio e a sua propaganda projectou uma imagem de coragem perante os inimigos externos e compaixão diante do seu povo. Uma concepção que agregava os seus componentes na realidade através do terror psicológico. Ordenou a preservação do corpo de Lenine através da mumificação e colocou-o simbolicamente no centro político de Moscovo para criar um local de veneração pública vocacionado para receber as grandes massas anónimas.

A Catedral Kazan, Praça Vermelha, Moscovo


Ao mesmo tempo que transformou a Praça Vermelha num local de culto, Estaline transformou a Catedral Kazan, perto do mausoléu, em sanitários públicos para servir as multidões anónimas. O monumento teve de ser reconstruído junto à Porta da Ressurreição no início da década de 90, tendo a cerimónia sido presidida pelo patriarca russo na presença de Boris Ieltsin. As medidas repressivas de Estaline contra a Igreja ortodoxa da Rússia estenderam se por todo o país. Padres assassinados, edifícios eclesiásticos destruídos, caso da Igreja do Cristo Salvador no centro de Moscovo, livros religiosos impedidos de serem publicados, sinos das igrejas fundidos para alimentar as indústrias. O sóbrio mausoléu de Lenine atrai hoje essencialmente os turistas que pagam bilhete para visitar os pontos de atracção do Kremlin disponíveis para público e a Catedral Kazan voltou a abrir as portas às celebrações religiosas em homenagem à Virgem de Kazan. O ícone religioso terá acompanhado Dmitriy Pozharsky na campanha contra os invasores polacos, em 1612. O príncipe moscovita mantém a sua estátua na Praça Vermelha por ter repelido o ataque contra o Kremlin no século XVII, mas os poderes soviéticos transferiram -na do centro da praça para frente da mágica Catedral de S. Basílio.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Primavera de Praga

Já existiam profundas divergências ideológicas entre ambos. Cândida Ventura continuou a empenhar -se na colaboração com a resistência checa e manteve -se representante do PCP com o apoio do líder do partido. Oficialmente, o partido considerou que o objectivo da intervenção da União Soviética e dos outros países socialistas representava "a consolidação do poder dos trabalhadores e do regime socialista na Checoslováquia" e o comité central tomou uma posição pública assumindo verificar com satisfação "essa prova de consciência política, espírito de classe e instinto revolucionário dos membros do Partido e da classe operária do nosso país".

A agente dupla do PCP (II)


Cândida Ventura fotografada na sua casa em 2009

Cândida Ventura  frequentou a casa de Cunhal em Lisboa durante a juventude ambos. Conheceu os seus pais e nutria uma especial simpatia por Avelino Cunhal. É este passado que permite a Cunhal pedir a opinião pessoal de Cândida sobre a invasão da Checoslováquia.  "Queria saber da minha boca o que eu achava sobre o que se tinha passado e sobre o que se podia estar a passar". Manifestou-lhe sem hesitações as suas discordâncias. "Não apenas em relação à ocupação militar e à forma como foi realizada, fazendo realçar as contradições dos argumentos soviéticos, mas ainda em relação à interferência dos Soviéticos na vida política e do PC na Checoslováquia."

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A agente dupla do PCP


Alexandre Dubcek regressou à Checoslováquia depois da "operação de purificação" a que foi submetido em Moscovo, mas continuou a correr risco de vida à medida que a Primavera de Praga se transformava num longo Inverno. Álvaro Cunhal cometeu uma inconfidência num encontro com a agente dupla a trabalhar em Praga. Um alerta que serviu para reforçar a segurança de Dubcek. 


"A verdade é que depois deste aviso de Cunhal, ele começou a andar com segurança pessoal e morreu precisamente numa viagem quando estava somente com o motorista», explica Cândida Ventura.A dirigente de ligação com os checos travara conhecimento com Alexandre Dubcek em 1965, tendo sido apresentada por Michael Sabolcik, membro da direcção do PCC. Tornou-se agente dupla do PCP/Moscovo e da resistência checa.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PCP expulsa Mário Soares


Mário Soares entrou para PCP em 1943 e foi afastado em 1950 após Álvaro Cunhal ter sido preso pela terceira vez. Cumpriu as instruções dos seus controleiros do PCP enquanto esteve infiltrado nos movimentos de unidade nacional e na candidatura presidencial de Norton de Matos. O que provocou um amargo dissabor quando o general teve conhecimento do seu duplo papel na recta final das presidenciais. Os comunistas expulsaram Soares na sequência do aumento da repressão após as eleições e acusaram -no de ter abdicado da luta com medo das represálias da PVDE. Soares garante que se afastou do PCP quando começou a perceber o verdadeiro significado do "plano de conquista do mundo" orquestrado em Moscovo.

Mário Soares e Álvaro Cunhal


As comemorações do 1.º de Maio de 1974 constituíram um momento histórico para o PCP e em particular para Álvaro Cunhal. O primeiro feriado nacional do Dia Mundial do Trabalhador representou uma vitória e a enorme mobilização das massas populares permitiu fazer a passagem narrativa do pronunciamento militar para o levantamento popular. A revolução parecia avançar imparável e concretizar os sonhos da geração de comunistas que entregara a sua vida à luta na ilegalidade. Cunhal clarificou diante das massas os seus objectivos tácticos de curto prazo: participar no Governo Provisório e aprofundar a ligação aos sectores militares para a construção de um novo país sobre os escombros do Estado Novo. Um caminho que tinha de ser complementado com a adopção de medidas que evitassem um contragolpe. Mário Soares, militante do PCP na sua juventude, com o apelido "Fontes",  integrou-se na dinâmica a revolucionária (ainda) sem afrontar o PCP.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O filho adoptivo do proletariado


As origens próximas da família Cunhal registam alguns antepassados ilustres, incluindo ramificações a grandes latifundiários e clérigos. As ligações directas a Seia concentram-se no exercício directo de profissões liberais, cargos políticos e gestão de algumas terras. Álvaro Cunhal assumiu estas origens privilegiadas, mas conseguiu encontrar uma "certidão de nascimento político" nas raízes rurais. "Sendo de origem burguesa, em toda a minha vida tive ligação muito profunda com operários, com camponeses, com pessoas exploradas e desprotegidas. Muito mais que com a burguesia". ".Era de facto de uma camada burguesa, mas ele próprio se assumia como um filho adoptivo do proletariado", recorda a irmã, Eugénia Cunhal.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A casa clandestina do Luso

Álvaro Cunhal foi preso pela terceira vez no dia 25 de Março de 1949. Vivia com Militão Ribeiro (“António”) e Sofia Ferreira (“Elvira”) numa casa alugada pelo PCP no Casal de Santo António, Luso. “Duarte” era um estudante universitário que tinha sido aconselhado pelo médico a retirar-se temporariamente para um meio sossegado por razões de saúde.

Sofia Ferreira (1922/2010)


“Dissemos que o Álvaro estava a tirar um curso, mas, por razões de saúde, o médico tinha-o aconselhado a retirar-se para um meio sossegado. Fazíamos uma aparência de vida de casal”, recorda Sofia Ferreira. Tinha 27 anos e Álvaro Cunhal 36. “Fazíamos a vida normal de um casal. Eu tratava das compras para a casa e ele passava a maior parte do tempo a trabalhar e a estudar, mas o Álvaro também saía para tomar umas imperais. O Álvaro era um homem que despertava paixões. Era muito bonito”.




As credenciais revolucionárias

As comemorações do 1.º de Maio de 1974 constituíram um momento histórico para o PCP e em particular para Álvaro Cunhal. O primeiro feriado nacional do Dia Mundial do Trabalhador representou uma vitória e a enorme mobilização das massas populares permitiu fazer a passagem narrativa do pronunciamento militar para o levantamento popular.



A revolução parecia avançar imparável e concretizar os sonhos da geração de comunistas que entregaram a sua vida à luta na ilegalidade. Pinheiro de Azevedo dirá mais tarde que este dia marcou em concreto o verdadeiro início da revolução “por omissão trágica” de Spínola. O presidente da República tinha sido “mal aconselhado” e recusara presidir à manifestação. “Foi a sua ausência que permitiu ao Partido Comunista começar a controlar as operações no âmbito do MFA”, acusou o antigo primeiro- ministro.


A convicção de Cunhal sobre o significado do momento ficou demonstrada com mais uma reprodução cénica. Depois da subida ao chaimite na chegada a Lisboa, apareceu na tribuna ao lado de um marinheiro e na presença do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Costa Gomes aceitara o desafio que Spínola rejeitou. O líder dos comunistas conseguiu projectar uma imagem de síntese entre o poder revolucionário vitorioso e as massas populares como partido da vanguarda. A manifestação tornou-se também numa homenagemao PCP e às décadas de luta clandestina contra a Ditadura e uma mensagem inabalável de esperança para os quadros em formação. Os milhares de pessoas que saíram às ruas no 1.º de Maio, tal como tinham feito logo após as primeiras horas do golpe de 25 de Abril, credenciavam o pronunciamento militar em levantamento popular.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A revolução inacabada


O 25 de Novembro marcou uma nova etapa para Álvaro Cunhal. O PCP mantevese na legalidade e actuante dentro do regime político, mas o pronunciamento militar aventureiro gerou um forte ambiente de desconfiança e terminou com o processo revolucionário. O 25 de Abril transformouse na “revolução inacabada”. O comité central do PCP reuniuse pela primeira no início da Dezembro e apresentou a versão comunista dos acontecimentos. “O chamado 25 de Novembro não foi um golpe militar para a conquista do poder e muito menos uma insurreição. Foi uma convergência de sublevações na sequência de uma vaga de saneamentos à esquerda, em torno de um processo de disputa de lugares de chefia entre vários sectores do MFA e das Forças Armadas”.

O 25 de Novembro

Na manhã do dia 25 de Novembro, as tropas páraquedistas da Base Escola de Tancos receberam ordens para ocupar o Comando da Região Aérea instalado no Monsanto e as bases aéreas do Montijo, Ota, Monte Real e Tancos. Os militares do Ralis avançaram sobre o aeroporto de Lisboa, cortaram os acessos à capital através da autoestrada e as tropas da Escola Prática de Administração Militar ocuparam a RTP.



O golpe antecipado pelo Grupo dos Nove eclodia por fim em plena luz do dia. Chegara o momento da clarificação forçada pelo agravamento da instabilidade. Ou o processo revolucionário dava finalmente um salto e se transformava numa revolução irreversível ou era travado e abria caminho ao desmantelamento de todas as conquistas.  


O 25 de Novembro acabou por representar uma grande derrota da Esquerda militar, a sua desarticulação e desagregação e o desaparecimento do MFA como movimento militar revolucionário organizado. “Mas não representou a derrota definitiva da Revolução, como alguns se apressaram a concluir”, garantiu Álvaro Cunhal.


A vida em Moscovo

“O Álvaro trabalhava muito e ajudava nas tarefas de casa para se libertar dessa intensa actividade intelectual”, recorda a companheira de então, Isaura Moreira. A sala de jantar do apartamento moscovita onde viveram na década de 60 foi transformada em escritório de trabalho. Sobravam dois quartos, uma sala de estar, duas casa de banho, uma delas transformada num pequeno estúdio de revelação de fotografias, e a cozinha onde Cunhal dedicava esporadicamente algum do seu tempo.

O bairro onde Álvaro Cunhal viveu com a companheira e a filha

“Ele cozinhava bem e chegou a ensinar-me a fazer algumas coisas”, detalha Isaura Moreira. Doces e algumas sopas, por exemplo. Cunhal tomava também a iniciativa de ajudar a companheira na gestão doméstica da casa e fazia compras na loja de lacticínios perto de casa. Comprava leite para a companheira e para a filha Ana e kefir para si. Uma espécie de iogurte típico do Cáucaso, mas com um processo de fermentação diferente e de maior facilidade digestiva por ser processado por um elevado número de microrganismos.

Isaura Moreira e Ana Cunhal

sábado, 1 de janeiro de 2011

As férias em S. Pedro de Muel


As férias de Verão de 1934 em S. Pedro de Muel foram as últimas em família. “Os nossos pais levavamnos a passar as férias na praia e lembrome de ser muito pequena e estar a brincar com o meu irmão", recorda Eugénia Cunhal. No Verão do ano seguinte, Álvaro Cunhal assume em definitivo a vida na clandestinidade. Parte para uma primeira missão em Moscovo e no regresso fica em Espanha para se envolver no início da Guerra Civil.



“As pessoas começaram a ter um comportamento desagradável connosco e os meus pais decidiram deixar de ir lá”, continua a irmã. Cunhal apreciava bastante as férias em S. Pedro de Muel. A pequena localidade concilia a força do mar e a imagem austera das rochas imponentes junto à costa com um intenso forte cheiro emanado pelos pinhais da região. Avelino e Mercedes foram confrontados com a decisão irreversível de Cunhal mergulhar na clandestinidade e visitar a União Soviética ilegalmente. “Falaramme dessa ausência em S. Pedro Muel. Pediram segredo e disseramme para não me preocupar, mas eu percebia que eles próprios estavam bastante preocupado com a situação do Álvaro», recorda Eugénia. Avelino e Mercedes tentaram explicar de forma simples a opção do irmão. “Diziam que o Álvaro acreditava num mundo melhor e que estava a tentar fazer qualquer coisa pelos outros”.