Joaquim Gomes morreu hoje. Tinha 93 anos de idade. Estivemos juntos em duas ocasiões. Primeiro: uma longa entrevista na sede do PCP, em Lisboa, na Soeiro Pereira Gomes (na fotografia). Falámos de tudo. Desde a sua infância até à adesão ao PCP e de tudo o que partilhou com Álvaro Cunhal. Combinámos ir ao Forte de Peniche reconstituir a célebre fuga.
Fomos num dia ameno de Março, também com Carlos Costa (na fotografia). Chegámos cedo a Peniche. Passámos horas no forte a reconstituir cada um dos passos. Sessenta anos depois: cada um dos passos. Esqueceram-se de mim várias vezes quando andaram os dois por ali a recuperar os fragmentos de um fim de tarde de domingo de Janeiro de 1960 que mudou tanta coisa na História de Portugal.
Almoçámos num restaurante perto do Forte de Peniche: arroz de tamboril. Bebemos e falámos. Eles falaram e eu ouvi. Ouvi o desfiar de décadas de histórias, de lutas, de sofrimentos, de alegrias e de derrotas. Pedi depois que se deixassem fotografar comigo: dentro do forte, junto às celas de onde fugiram há 50 anos. Na verdade, não foram só eles que fugiram com Álvaro Cunhal. Na verdade, nesse fim de tarde, fugiram todos os que acreditam. Joaquim Gomes acreditou até ontem. Acreditou até morrer. É também isso que o torna num homem especial. Adelino Cunha
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