segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Álvaro Cunhal na tropa


Álvaro Cunhal foi convocado para cumprir o serviço militar em Lisboa, mas não compareceu na incorporação prevista para Agosto de 1937. Tinha sido preso nesse ano após o regresso de Espanha e só voltou à liberdade em Julho do ano seguinte. Apresentou-se para cumprir o serviço militar somente em Novembro de 1939. Quando se apresenta no Exército, Cunhal é um jovem revolucionário que regressa de uma guerra ideológica perdida para as forças adversárias que começam a dominar a Europa. Tem diante de si a perspectiva de cumprir o serviço militar nas fileiras da ditadura depois das experiências galvanizantes que viveu na União Soviética e Espanha. Enfrenta agora também uma penosa acusação de deserção pelo tempo que demorou a apresentar -se no quartel. “Era falso. Porque quando fui convocado para a integração me encontrava preso e, portanto, não era desertor”. Durante a incorporação no quartel de Santo Estêvão, Penamacor, teve de executar as tarefas atribuídas aos soldados rasos, apesar de ser estudante universitário, isto é, de ter direito a frequentar a escola de oficiais milicianos. “O facto de estar com os meus companheiros a limpar a erva no quartel não me deslustrava, nem era uma coisa que eu considerasse que não devesse fazer”. Aproveitou a ocasião para ridicularizar alguns incidentes a que assistiu e que mais tarde contou Yulia Petrova . Num desses episódios, os soldados que acompanharam uma cerimónia fúnebre realizada no cemitério público, entre os quais Cunhal, foram proibidos de utilizar munições verdadeiras por razões de segurança. “Ainda puseram a hipótese de usar balas de pau, mas acharam que mesmo assim isso poderia ser perigoso”. A solução foi fazer umas “buchas bem fortes de algodão” que, quando disparadas após o barulhento puxar das culatras, se limitaram a fazer um pequeno “barulhinho: pshh pshh!”.

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