quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A iniciação

Álvaro Cunhal terminou o curso liceal com média de 13 valores e em 1931 entrou para a Universidade de Lisboa. Tinha acabado de completar 18 anos e cruza-se finalmente com o comunismo. A adesão ao PCP foi como uma ordenação. “A minha opção já estava feita e quando entrei na Faculdade [de Direito] procurei os comunistas para me filiar no Partido”. O contacto surgira gradualmente através dos livros e dos jornais. “As leituras começaram a trazer-me notícia da Revolução Russa, da luta dos comunistas e do marxismo, comecei a ter uns livros à mão a esse respeito, um pai muito respeitador, homem de espírito aberto e democrático, e portanto foi fácil”.


É esta capacidade da subversão intelectual e de sobressalto cívico de Avelino Cunhal que abre as portas do comunismo ao filho. Salazar já iniciara a sua carreira despótica no Ministério das Finanças e Estaline executava a sangrenta colectivização dos campos russos provocando uma vaga de deportados entre uma classe marcada de agricultores: os “kulaks”. Sucederam-se as revoltas nos campos russos, as deslocalizações de famílias inteiras para regiões inóspitas com o falso pretexto da urgência de serem “colonizadas” e o bloqueio das cidades para impedir as populações de regredirem nos seus caminhos. Uma política executada à custa de sucessivos esmagamentos sangrentos diante das tentativas de insubmissão.




Além das vítimas directas, o terror da “deskulaquização” estalinista contribuiu directamente para a Grande Fome de 1932 -1933. Um fenómeno dramático que gerou episódios de canibalismo entre os Russos. Este mundo distante demorou a chegar ao PCP. Desde logo porque os dirigentes internacionais que visitavam a União Soviética eram condicionados por um manipulador programa de visitas assépticas. Os Soviéticos mostravam somente o que queriam que fosse visto.


A primeira visita de Cunhal em 1935, com Bento Gonçalves, passou necessariamente longe da realidade do estalinismo. “Ele chegou encantado de Moscovo. Não tinha razão para desconfiar da nada do que se passava”, justifica Cândida Ventura. “Nessa primeira vez, entre os altos dirigentes, só conheceu Suslov e só conseguiu ver a União Soviética que mostravam para propaganda, as visitas guiadas ao mausoléu onde estava o corpo de Lenine e alguns eventos sociais”, recorda, depois de ter estado com Cunhal logo após o seu regresso de Moscovo.








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