Ana Cunhal
O aparelho do PCP organizou a fuga de Isaura Moreira e de Ana Cunhal para o exílio. “O partido é que decidiu que eu tinha de sair com a minha filha”, recorda a antiga companheira de Álvaro Cunhal. Não estavam ainda devidamente identificadas pela PIDE e puderam fazer a viagem de carro com um passaporte cedido por uma militante. Isaura adoptou, por força das circunstâncias, o pseudónimo “Teresa” por ser o nome registado no documento e Ana, com pouco mais de seis meses, ficou com o pseudónimo de “Paula”. “A camarada que cedeu o passaporte tinha um filho chamado Paulo e mudou-se apenas uma letra no nome que estava averbado”, refere Isaura Moreira. As fotografias foram igualmente falsificadas. Mãe e filha saíram de Portugal no final de Agosto de 1961. Atravessaram Espanha e França de carro com um casal de funcionários do PCP que aceitara cumprir a delicada missão de retirar de Portugal a jovem companheira de Cunhal e a sua filha recém-nascida. A PIDE não tinha fotografias identificativas de Isaura Moreira, mas sabia da sua existência desde as operações falhadas na casa do Penedo, em Sintra, e na Achada, em Mafra. Chegaram a Paris em segurança. A companheira e a filha de Álvaro Cunhal foram alojadas na casa de um cidadão francês que vivia com uma filha já adulta. A mulher tinha sido executada num campo de concentração nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Isaura e a filha ficaram algumas semanas em Paris antes de viajarem para a União Soviética ao encontro de Cunhal. Partiram em finais de Setembro para Praga e da capital da Checoslováquia transitaram para a União Soviética, onde chegaram em Outubro. Após a queda da casa de Mafra, Cunhal procurara Isaura por curtos períodos de tempo nos refúgios no Porto e na Amadora. Tentou aproveitar todos os momentos para estar com a companheira e com a filha bebé. “Num dessas alturas, estivemos os três juntos quinze dias, no Porto. Depois tornou a 'desaparecer'”. A vida conjugal só teve alguma normalidade a partir de Outubro de 1961 quando Cunhal, Isaura e Ana começaram a viver juntos em Moscovo, num apartamento da Voroby’evskoye Shossé. Aos 48 anos, o líder do PCP tem o seu primeiro núcleo familiar desde que abandonara a casa dos pais para se envolver na Guerra Civil de Espanha. Pode finalmente conviver com a filha, uma bebé que nascera na clandestinidade e vivera com a jovem mãe as inúmeras fugas às perseguições da PIDE.
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